Será que não era coisa da minha cabeça?
Desde pequenos, definimos alguns sonhos que almejamos alcançar ao longo de nossas vidas. Talvez na tentativa de tornar a jornada um pouco mais desafiadora, traçamos certos sonhos mais difíceis de alcançar. A busca pela realização de um feito tão desafiador torna, então, a conquista, um ato praticamente heroico.
Meu maior sonho foi realizado quando eu tinha somente 21 anos. Pode até ser que você me considere pouco ambicioso, ou pense que meu sonho era facilmente alcançável. Aceito esta teoria também. O fato é que eu pude não apenas alcançar meu sonho — mas viver nele.
Desde criança, fui fascinado por mapas e bandeiras. Folheava o Atlas (sim, sou velho assim) e ficava observando bandeiras, países e mapas. Uma certa bandeira, vermelha e branca com uma folha diferente no centro, me chamava a atenção. Ah, o Canadá! Desde pequeno me encantei. Busquei conhecer mais sobre o país e até tive anteriormente algumas oportunidades — logicamente frustradas, para realizar este sonho.
Fato é que fui intimado pelas pessoas certas a finalmente dar um passo de fé e encarar o desafio de realizar um intercâmbio. No meio de uma decepção com a graduação que cursava na faculdade, dificuldade em encontrar um emprego em que eu me sentisse realizado, decidi me aventurar em buscar viver meu sonho.
Meu inglês era péssimo. Me lembro quando a Chica me chamou para a primeira triagem, uma entrevista básica em inglês, critério importantíssimo para avançar para as próximas etapas. Eu suava frio, como se fosse uma entrevista transmitida para o mundo todo. E, crente que milagres são reais, saí confiante da conversa, esperançoso de que tinha ido bem.
Veio a nova etapa. Entrevista com o acampamento no Canadá. Minha oração com Deus foi clara: “se for da Tua vontade, que as portas sejam abertas e que tudo flua naturalmente. Se não for, que eu sequer passe desta etapa”. Dias depois, recebi a confirmação que eu tinha sido aprovado para me juntar à equipe de Staff do Camp Qwanoes. Era o sinal!
Agora só faltava juntar o dinheiro. Mas investir em um intercâmbio ganhando 550 reais por mês não é das tarefas mais fáceis. Bom, dependia da minha fé e esperança de que Ele estava à frente deste sonho e as portas seriam abertas. Logicamente, deu tudo certo: portas se abriram, pessoas foram tocadas a me ajudar e até freelas surgiram.
Finalmente chegou o grande dia. Embarquei rumo à minha maior aventura. Passei por alguns perrengues na chegada, é verdade. Minha mala foi extraviada, o hostel não era o mais confortável, as refeições eram as mais baratas possíveis. Mas isso não importava! Eu estava lá! Eu cheguei no Canadá! Agora era aproveitar ao máximo os 3 meses que viriam pela frente.
No Camp Qwanoes, veio o grande choque de realidade. Com gente de todo o mundo, notei que meu inglês era limitado e, por muitas vezes, me sentia incompreendido, isolado. Foi o suficiente para questionar Deus sobre a decisão de ter embarcado nessa aventura. “Será que não era coisa da minha cabeça?” Nessas horas, milhares de pensamentos vieram para me atordoar. Mas conversando com pessoas certas e, principalmente, buscando respostas nEle, pude ter a certeza que este era um desafio que me faria amadurecer. Nessas horas, qualquer intercambista já pensa no famoso versículo em Josué 1:9: “Não fui eu que lhe ordenei? Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem se desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar”. Um tapa na cara pela minha falta de fé. A partir dali, busquei aproveitar a experiência do intercâmbio ao máximo, entendendo que o fato de eu ter saído da minha zona de conforto e ter viajado mais de 10 mil quilômetros era uma enorme vitória.
O que deveria ser um intercâmbio de 3 meses virou uma jornada de 1 ano e 4 meses. Com inúmeras experiências inesquecíveis, perrengues dos mais diversos, partidas e chegadas, vivi o meu maior sonho, “muito mais abundantemente além daquilo que pedi ou pensei”, como está escrito em Efésios 3:20.
Saudosista que sou, vez ou outra paro para rever as fotos e a nostalgia bate. Consigo entender perfeitamente que os planos de Deus são muito maiores que os meus. E nem nos mais otimistas dos meus pensamentos eu poderia imaginar que chegaria onde cheguei, fazendo tudo o que tive a oportunidade de fazer. Olhando pra trás, vejo o quanto o intercâmbio foi uma das minhas melhores decisões. Mais do que isso, o sonho que se tornou realidade e mudou quem eu sou.
*Estevam Mattar viajou com a Intercâmbio Cristão para o Camp Qwanoes no Canadá.