Não importa o lugar
Me lembro exatamente do dia e da hora que comecei a duvidar se deveria mesmo fazer o intercâmbio que tanto tinha sonhado. Com tudo pago, data marcada e já me organizando para ir para a Inglaterra, tive a sensação de estar sendo egoísta nessa decisão. Durante um culto, comecei a me perguntar como eu tinha tido a coragem de gastar meu dinheiro com algo que beneficiaria somente a mim. Como eu poderia fazer uma viagem que não teria nenhum impacto social, que seria apenas para o meu próprio crescimento.
Foram algumas semanas de oração, ligações com a Chica, da Intercâmbio Cristão, e muita reflexão. Depois desse tempo, entendi que eu poderia sim ir para a Inglaterra sem sentir culpa. Entendi que era ali que Deus tinha me confirmado, que todas as portas que se abriram pra que eu conseguisse fazer esse intercâmbio eram Ele me dando o aval. Entendi que eu não preciso estar necessariamente em uma base missionária ou fazendo um trabalho voluntário para ter algum impacto positivo na vida das pessoas. Na verdade, mesmo em um projeto voluntário meu coração poderia estar com a intenção errada. O lugar físico não importa. Deus também se alegra com o meu crescimento pessoal e usa isso para abençoar outras pessoas também . Entendi que poderia viver essa viagem tendo consciência do grande privilégio que tinha, e poderia olhar para ela com outros olhos, com propósito, transformando-a em algo muito maior.
Depois de alguns meses fui para minha viagem e tive diversas experiências que só me confirmaram o que eu aprendi nesse processo. Aprendi coisas que já me ajudaram a lidar com situações difíceis da vida que vieram depois. Conheci pessoas que me marcaram pra sempre. Entendi mais sobre Deus e sobre o que Ele tem para nós, uma vida diversa, cheia de significados. Vi como a fé pode se manifestar de maneiras tão diferentes.
Naquele dia cheio de dúvidas, cheguei em casa e escrevi o que estava sentido, “Acho que meu propósito de vida é promover a vida que, de verdade, Jesus nos ensina a viver. Não por uma questão de doutrina ou religião, mas para que as pessoas simplesmente vivam bem enquanto podem viver”. No meu último dia de intercâmbio, conversando por mensagens com a Chica, ela me escreveu, “Jesus ama te usar como ponte para que as pessoas possam ter um vislumbre de como é a vida com Ele”.
A semelhança entre esses dois trechinhos me emociona e me assusta toda vez que leio. Meu intercâmbio, que quase acabou não acontecendo, serviu para me ajudar a entender mais sobre mim e sobre a vida que quero viver. Tenho certeza que Deus me ensinaria coisas especiais em qualquer lugar, mas como sou grata por ter tido essa experiência!
Sei que o intercâmbio é um investimento alto, uma decisão muito importante e um privilégio enorme. Muitas vezes, na hora de realmente gastar o dinheiro, pode bater uma certa culpa, uma sensação de egoísmo. Mas hoje eu tenho certeza: se o coração está no lugar certo, o lugar não importa. Se escolhemos fazer tudo de acordo com a vida que Jesus tem para nós, seja aqui, na África do Sul, na Inglaterra, na Austrália ou em qualquer lugar, Ele fará o que precisa ser feito.
*Beatriz Bastos foi para Christchurch com a CESE em janeiro de 2019 e hoje trabalha conosco atendendo futuros intercambistas.